10 Considerações sobre Memória da Água, de Emmi Itäranta ou porque a água guarda todos os segredos

O Blog Listas Literárias leu Memória da Água, de Emmi Itäranta publicado pela Galera Record; neste post as 10 considerações sobre o livro, confira:

1 - Memória da Água, de Emmi Itäranta é uma crível e desoladora ficção sobre o preço que poderemos pagar por nossas ações ambientais e o abuso que cometemos com nossos recursos naturais;

2 - Para nos apresentar essa ficção num futuro que a água é limitada e um poder opressor e controlador governa esse mundo árido, conhecemos Noria, uma jovem aprendiz da milenar arte dos mestres do chá que nos relata em primeira pessoa como é esse novo mundo em que o encontro entre futuro e passado se juntam numa só coisa;

3 - Se por um lado, o ambiente árido, desolador e ao mesmo tempo com ares de um retorno a tempos antigos, o livro mantem em seu futuro alguns avanços tecnológicos, todos estes estando ligados à energia solar, já que nesta apocalíptica trama o petróleo foi exaurido;

4 - E o grande conflito dá-se justamente pelo fato de Noria ter acesso a uma fonte de água, que é um segredo de sua família, e este segredo é extremamente perigoso justamente porque neste novo mundo a água é controlada e racionada por militares orientais que controlam a Europa;

5 -  Com esse enredo, o leitor envolve-se plenamente na leitura, sendo absorvido pela trama de uma forma bastante interessante porque o livro é composto por uma série de camadas que em que o perigo não está presente numa ação explícita, mas sim no conjunto de sua ambientação e acontecimentos que sem precisar de cenas espalhafatosas nos aprisiona em total tensão durante todas suas páginas;

6 - Agora, o que diferencia Memórias da Água de outras distopias apocalípticas é a grande naturalidade com que essa possibilidade é apresentada, sem em nenhum momento pender para a fantasia, mas sim sempre dentro de uma ótica realista das possibilidades. E isto é algo que acaba tornando a obra bastante relevante no cenário literário;

7 - O livro ainda retrata a força e a tradição dos ritos e tradições e como eles podem nos prender a determinadas personagens e as torná-las reais e próximas, além é claro de nos encantar pela magia que envolve determinados rituais, como no caso aqui, da cerimônia do chá que serve como constituição de caráter de Noria e sua família;

8 - Além disso, a obra promove discussões sempre presentes em obras que retratam esses possíveis novos, sombrios e áridos mundos que é o quanto podemos nos entregar ou compadecer com os outros como nós; é um embate constante entre a sobrevivência e a solidariedade, entre a confiança e a desconfiança, entre manter-se humano ou tornar-se presa ou predador. Em Memórias da água tais dilemas não aparecem na violência explícita e sim na grande carga psicológica que nos pesam as escolhas;

9 - Aliás, o caráter realista desta distopia em que tudo salta das páginas numa temerosa possibilidade, é a marca da desconfiança que está sempre presente na publicação, pois ao passo que Noria, desde um prologo revelador, vai nos apresentando este novo mundo, somos tomados pela paranoia de tal forma que às vezes dá até vontade de gritar com a protagonista alertando-a de que certos segredos devem manter-se em segredos, ou então gritar que isso ou aquilo não vai dar certo. E o mais incrível é que nem sempre as desconfianças criadas no leitor se confirmarão.

10 - Enfim, Memórias da Água é uma excelente leitura, relevante, humana, sensível, e acima de tudo um grande alerta sobre o que precisamos fazer hoje para que o amanhã não seja aquele em que Noria vive, árido, opressor, e principalmente, perigoso demais para os que ainda sobrevivem, sem recursos e sob o jugo dos poderes.


  

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